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sábado, 20 de dezembro de 2003

Capítulo III - Um reveillon fatídico

Neste meio tempo, uma amiga minha começou a sair com um amigo dele, este sim um verdadeiro palhaço no sentido mais abjeto do termo. Parecia o líder da turma de filhos de novos ricos da Barra, grupo do qual Bodão fazia questão de se aproximar. A época, coincidentemente, era a mesma em que estamos agora, as proximidades do Ano Novo. Foi aí que eu e minha amiga fizemos a grande besteira de aceitarmos o convite para passar o fim de ano em Búzios com os dois palhaços e mais outros três ou quatro agregados.

O palhaço da minha amiga havia alugado uma casa, que ao chegarmos lá descobrirmos se tratar de apenas uma suíte para oito pessoas. Nós três, eu, minha amiga e Bodão, que só para esclarecer não conhecia a casa e também foi de gaiato como nós, fomos de carona com ele. Como um bom palhaço-canalha, quando já estávamos em Búzios, freqüentemente o namorado da minha amiga a deixava na pista e saía sozinho com os amigos para zoar. Assim, passamos a maior parte da viagem os três juntos e sem carro, porque eles também queriam se livrar do Bodão.
Mas vamos voltar ao início da viagem, já que o palhaço em questão é o meu, e não o da minha amiga. Era a primeira vez que Bodão viajava sozinho. Nunca vou me esquecer da mãe dele se despedindo na calçada, os olhos marejados de emoção ao se despedir do rapazinho que partia para sua primeira aventura fora de casa. Como uma boa mãe, ela preparou algumas coisinhas que Bodão levava em sua bagagem: dois bolos, um pote de sorvete com feijão pronto, carne assada, arroz e um saco de uns dez quilos de laranja. Além de todos os tênis, roupas, toalhas, lençóis, colchonetes e travesseiros. Tivemos sorte de viajarmos numa Fiorino com caçamba fechada, onde conseguimos alojar toda a sorte de coisas que Bodão levava.

Já em Búzios, sua bagagem não ficou tão bem acomodada. Como lá só tínhamos uma suíte para ser dividia por oito pessoas, metade do quarto foi ocupada pelas malas do Bodão, despertando a antipatia inicial dos outros convivas. Para nos dividirmos melhor, a mala do Bodão teve que dormir no carro.
No dia seguinte, ninguém mais o agüentava. A convivência diária, e ainda por cima em espaço tão exíguo, se tornou uma tarefa de sobrevivência para todos. As comidas tiveram que ser rapidamente oferecidas aos mais carentes da redondeza, antes que apodrecessem tornando o ambiente ainda mais inóspito. E, sinceramente, não consigo me lembrar da razão para tantas laranjas.

No mesmo dia, ele pegou o carro do amigo emprestado para irmos até a cidade telefonar para as nossas mães, eu, ele e minha amiga. Bodão, que se achava um ás do volante, fez uma tremenda barbeiragem e quebrou o farol batendo em outro carro estacionado ao sair da vaga. O palhaço ficou com o cu na mão. Fomos ao orelhão. Eu e minha amiga ligamos e avisamos que estava tudo ok, até que chegou a vez do Bodão. Com todos esses problemas, o tempo e a distância fora de casa, ele precisou de cerca de 40 minutos ao telefone para contar tudinho para a mãe, enquanto nós esperávamos debaixo de um sol a pino e uma fila se formava cada vez maior e mais exaltada.

Amanhã: O imperdível resgate do Bodão

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