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sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

A saga - Capítulo II

Uma vida a dois com Bodão
Ele era bonitinho, fazia o meu tipo. Era amigo de infância de uma amiga minha, moravam na mesma rua. No começo, era simpático e divertido também. Depois do segundo ou terceiro encontro é que passei a me divertir DELE, e não mais COM ele. Acho que fui levando o namoro adiante por causa disto. Cada nova faceta cômica do Bodão me surpreendia ainda mais e eu comecei a discutir com ele sobre suas atitudes e pensamentos bizarros ao invés de simplesmente dar logo o fora.

Para início de conversa, ele era filho único de uma mãe viúva e tinha como único referencial masculino um tio obeso e solteirão que fazia todas as suas vontades. Ou seja, era o típico filhinho da mamãe. Outras características que fui percebendo aos poucos: tinha sonhos consumistas de grandeza, só dirigia rápido e cortava todo mundo, aliás, carro para ele era tudo. Tinha horror a maconha e achava que maconheiros eram maus elementos que deveriam ser presos, porém fumava e bebia como um porco. Sua brincadeira favorita era imitar veado perto dos amigos, que em sua maioria eram riquinhos moradores da Barra.

Quando Bodão queria uma coisa, era insuportável. Ele era o tipo de cara que insistia para você fazer o que ele queria, até que a pessoa acabasse cedendo porque não agüentava mais ouvir a sua voz. A grande ambição de sua vida era ter um telefone celular. Na época quase ninguém tinha, só os mais abonados já usavam. Uma vez, discutimos porque ele insistiu tanto para um de seus amigos lhe emprestar o celular, claramente para saciar por alguns minutos o desejo de ter em suas mãos um aparelhinho daqueles, a ponto de se humilhar para o tal amigo rico que não queria emprestar o brinquedo novo. Achei patético.

Entre quatro paredes, Bodão também era sui generis. Novidade total para mim naquele tempo, o rapaz só funcionava no fio terra. Se não ligasse, ele não conseguia gozar. Associei isto ao outro fato que já mencionei dele estar sempre puxando o saco e imitando gay perto dos amigos, e comecei a duvidar seriamente de sua masculinidade.

Como se não bastasse, havia um grande mistério em sua vida que o palhaço se negava a me revelar. Algumas vezes por semana, ele ia à noite para Niterói, e eu não conseguia descobrir o que ele tinha para fazer por lá.

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