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segunda-feira, 19 de janeiro de 2004

Palhaço maluco
Tem uns caras que se superam: além de palhaços são malucos. Topei com um desses sábado passado. Estava no Casarão Hermê, quando começou a tocar forró e o maluco me tirou pra dançar. Eu não sei dançar junto muito bem e avisei isso ao cara, que resolveu pagar pra ver. Como sempre faço quando danço, me concentrei firmemente no dois-pra-lá-dois-pra-cá e, no final das contas, ele que acabou pisando mais no meu pé que eu no dele. A música terminou, engatamos no tradicional “então, tá”, “beleza” para se despedir e o cara disse que ia ao banheiro. Voltou do banheiro e resolveu conversar. Bom, conversar não é bem a palavra certa. O palhaço me fez um monte de pergunta esdrúxula e como eu estava com 300ml de caipirinha na cabeça, tinha ímpetos de gargalhar, que eu sufocava com entornando uma garrafa de água goela abaixo.

– Você é religiosa?
– Quase católica. (Meu Deus, porque diabos este cara quer saber isso?)
– Quase?!?!? Você não vai à missa?
– Não. (Ele bebeu mais que eu...)
– Eu sou árabe.
– Ah... (Super interessante)
– Muçulmano, disse ele, e fez alguma piadinha com Bin Laden.
– Ih, então, você é um homem-bomba! (E gargalhei.)

Após alguns minutos de silêncio constrangedor e outra ida ao banheiro, o cara me avisou que tinha que procurar os amigos porque ia dar carona para eles.

– Se você não dá carona e vai embora, eles ficam putos. Sabe como é, morador do Leblon é tudo filho da puta.

Coitadas das personagens de Manoel Carlos... Todos filhos da puta...

O cara foi procurar os amigos e como eu estava meio bebinha nem lembrei de entoar um mantra pra que ele não voltasse. Na verdade, estava até divertido e eu queria saber qual o grau de insanidade do artista.

E ele voltou ao tema:

– O pessoal do Leblon é tudo filho da puta.

Isso era uma obsessão pra ele! Aí, eu já estava achando a brincadeira meio chata e falei, séria:

– Olha, eu tenho uma amigo, irmão de fé, camarada mesmo, que mora no Leblon. Eu não estou gostando de você dizer que ele é filho da puta. (Mentira, óbvio)

Mas o show de non sense do artista não tinha acabado.

– Você já foi à Dinamarca?
– Nããão. (Eu já não conseguiu segurar o deboche e respondi como se lamentasse profundamente o fato de nunca ter ido à Dinamarca.)

O palhaço maluquinho seguiu com suas pérolas da sandice:

– Você conhece Robert Altman?
– Conheço.
– Quem é ele?
– Um diretor, respondi sem acreditar que aquele papo estava mesmo acontecendo.
– Diretor de que?
– De cinema...
– Fala o nome de um filme que ele tenha feito.

Cansei da brincadeira mais uma vez:

– Ih, acho que não vou passar na sua prova de conhecimento gerais... (Mais gargalhada)

Enfim, o palhaço resolveu partir. Ahhhhhhhhhhhhhh, já vai?!?! Tão cedo...

Uns quarenta minutos depois, quando estava pagando minha conta, o segurança me chama.

– Tem um rapaz te chamando lá fora.
– Eu? Não, não tem rapaz nenhum comigo.
– Ele está dizendo que é com você...

Quando olhei lá pra fora, lá estava o palhaço maluquinho dentro de um carro, me chamando. Fui até ele e deu-se mais um diálogo insano.

– Você conhece esta música? (E ele aumentou o volume do rádio)
– Não. (Ele continuava testando meus conhecimentos gerais...)
– Você já foi a Paris?
– Nããão... (Será que ele queria me vender algum pacote de viagem?) Olha, eu tenho que ir lá. Tchau.

Ele falou que a gente ainda se vê no Casarão. Tomara que nos vejamos, sim, mas um bem longe do outro pra que haja tempo de eu me esconder.

A gente ri, mas o cara não maluco, não. Ele é prepotente e exibido. É daqueles que gostam de esbanjar conhecimento, mostrar que tem pedigree, dinheiro, influência. O problema é que é burrinho e não sabe achar um gancho na conversa pra introduzir todos os detalhes da sua vida tão movimentada, viajada, elitizada. E essa de me chamar de dentro do carro? Foi ridículo! Só pra mostrar que é “motorizado”. O mané ainda se fodeu por se tem uma coisa que não me impressiona é carro. Tiro n’água total. Depois, esses rapazinhos vêm aí esculhambar a gente nos comentários, mas vai me dizer que essa é ou não é uma grnade palhaçada?

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