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terça-feira, 9 de março de 2004

Palhaço assombração
Na última sexta-feira treze fui perturbada por um palhaço tipo assombração, aquele que aparece de vez em quando só pra te “assombrar” com lembranças de um passado (quase) feliz.

Passava das nove da noite e eu já estava de pijama, lendo na cama, quando meu celular tocou. Demorei a ligar o nome que aparecia no Bina à pessoa de tanto tempo que não via o artista. Conversamos durante uns bons minutos até ele me chamar para sair. Disse que não queria sair pra dançar, que preferia um lugar pra conversarmos, comermos qualquer coisa e tal. Tudo bem. Minha sexta estava perdida mesmo, por que não tentar salvá-la com um bom papo e alguns beijos na boca?

Marcamos na Lapa. Quando eu cheguei, ele já me esperava na porta do bar que combinamos. Saí do taxi e o palhaço não me beijou. Quando digo não beijou é não beijou MESMO: nem no rosto. Relevei. Ele estava com as mãos nos bolsos, uma estratégia clara de não deixar as mãos livres para serem seguras pelas minhas, e assim continuou até sentarmos na mesa do bar. Aliás, ele não quis ficar no bar que tínhamos marcado porque estava muito cheio. Ele fez questão de procurar um bar vazio. Como não há bares vazios em uma sexta-feira na Lapa, acabamos ficando no terceiro bar que procuramos e ainda assim não estava muito do seu agrado, eu é que saí pedindo uma mesa para dois para o garçom e ele não teve como dizer que não.

O palhaço em questão fala mais que pobre na chuva e conta cada coisa mirabolante que eu fico até sem assunto. É como aquela conhecida que comentou com o pretê: “Vi um filme ótimo do Almodóvar” e o cara respondeu: “Almocei com ele ontem”. Diante de um cotidiano tão interessante, o que é a minha vida de funcionária de 8h às 17h e estudante das 18h às 22h?

Ele me contou todas as suas últimas aventuras nos mínimos detalhes e em momento algum falou sobre coisas pessoais, pegou na minha mão, disse que eu estava bonita ou qualquer outro elogio que me conquistasse. Parecíamos dois velhos conhecidos batendo papo no bar.

Depois de pouco mais de duas horas de conversa, ele resolveu pedir a conta. Não entendi o motivo da pressa, mas ok: tragam a conta. Ainda fui idiota de dividir a despesa!

Saímos do bar e suas mãos voltaram automaticamente para os bolsos da calça. Na calçada do bar, ele perguntou aonde eu ia.

– Pra minha casa. (Obóvio.)
– Mas já?
– Ué, você pediu a conta...
– A gente podia dar um rolé por aí...
– Na Lapa??? (Por que não, né? Um local tão aprazível...)
– Pô, não vai dar nem pra dar uns beijinhos?...
– Acho que não, né? Você nem tocou em mim... (Meu sangue começou a ferver.)
– Onde você pega seu taxi?

Me envoquei e perguntei, entre surpresa e irritada:

– Peraí, é isso mesmo? Você me liga, me chama pra sair, a gente se encontra e não vai rolar nem um beijinho?!?!?
– É que eu sou tímido. Não gosto de fazer “essas coisas” na rua.

Como assim, cara pálida? Não gosta de andar de mãos dadas, de fazer carinho, de beijar na boca? Não estou falando de sexo explícito embaixo dos Arcos, eu só queria um chamego. Parti para as perguntas diretas:

– Você é casado?
– Não.
– Tem namorada?
– Não. (Dou meu cu na rifa como isso é mentira. Pode começar a correr os números.) Sempre fui tímido. Quando era adolescente era um problema... (Tá bom. E eu sou uma empada.)

O palhaço ainda mostrou toda sua falta de tato ao me convidar para ir ao motel, depois de tudo. Me vali de toda a educação que mamãe me deu e sorrindo discretamente, disse no seu ouvidinho que se ele tinha “problemas” com fazer “essas coisas” na rua, eu tinha “problemas” de ir pra um motel assim a seco. Por pouco não completei que se ele queria SÓ sexo, deveria ter recorrido a uma profissional.

Ele ainda me abraçou rapidamente (depois de olhar para os dois lados para se certificar de que não vinha nenhum conhecido) e me deu um estalinho de despedida.

Entrei no taxi quicando de ódio! Saí de casa só pra encontrar o palhaço, gastei dinheiro de taxi, ainda dividi conta e não ganhei nem um cafuné?!?!? Se fosse pra bater papo, a gente se falava pelo telefone mesmo, ora! Me sairia mais barato.

E ainda tive que atuar um convite esdrúxulo. Que o cara não quer namorar comigo, vá lá, já entendi, mas ele me ligou depois de mais de um mês de sumiço, falou que queria me ver em um lugar mais “calmo”, não é necessariamente “meu amigo” para querer sair só pra papear, então, supõe-se que vai rolar uns beijinhos, né? Mas o pior de tudo foi o convite pro motel sem ter sequer pego na minha mão. Aliás, para aquela que seria nossa primeira transa!

O pior de tudo foi que ele ofendeu minha inteligência ao achar que eu acreditaria neste caô de que é tímido. É CLARO que ele tem namorada. Quequiá, meu camarada!!!!! Palhaçada tem limites. Vá dar função em outro picadeiro porque neste aqui sua temporada já se esgotou.

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