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quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Número principal da noite

Na dúvida do que fazer, fizemos o de sempre: cerveja na Lapa. Tamos lá as três tomando nossa cervejota na calçada do Arco-íris e ainda maldizento o fracasso da empreitada quando C.R. encontra um peguete. Ele é branquinho, mas sabe como é, guerra é guerra e ela se atraca com o bruto.

Ficamos eu e Glorinha, falado mal sei lá de quem e nos regozijando da boa sorte da companheira que não deu viagem em vão, quando um palhaço nos interrompe. "Vocês gostam de cinema". Opa! O circo chegou!

Respondemos em uníssono "Não!!!". O palhaço fez uma cara de incredulidade e deu um passinho à frente. "Vocês me dão licença. Meu nome é fulaninho". Ahn, quem perguntou alguma coisa? Ele prosseguiu, apesar das nossas caras de tédio. "Perguntei se vocês gostavam de cinema porque estou trabalhando no festival e, se vocês gostassem de cinema....".

Glorinha: Ah, você ia o que? Nos botar pra dentro de uma sessão?
Palhaço: É que eu trabalho com o credenciamento dos vips...
Eu: Meu bem, nós SOMOS vips. Se a gente quisesse ir você faria nossas credenciais. Não precisamos que ninguém nos arrume uma credencial.

Palhaço com cara de susto. "Vocês fazem o que?". Vai, vamos admirar pelo menos a cara de pau dele. Toma um toco bonito e continua. Êita apego ao picadeiro. "Somos jornalistas", respondemos. Bom, não que jornalista seja vip, mas ele era chato então valia qualquer coisa pra ele nos achar chatas também e ir embora. "As duas?", pergunta ele com o mesmo ar de quem não tá acreditando. Respondemos que sim e ele, sabe-se lá movido por quais substâncias entorpecentes, começou a falar em francês. Será que ele acha que todos os jornalistas falam francês? Será que ele é evangélico, baixou o espírito santo e está falando em línguas? O mundo é estranho.

- "Que isso, que isso, que palhaçada é essa?" - perguntei quase gargalhando, mas poupando o infeliz de ouvir "Tu é francês? Não, né? Eu sou francesa? Não. Estamos na França? Tamos na aula de fluência de francês? Não. Pois então esses seriam os únicos motivos desculpar você falar em francês com a gente, de resto é falta de educação e babaquice.

– É que eu morei em Milão... - começou o palhaço. Antes que eu tivesse chance de falar "E em Milão se fala francês?" Glorinha interrompeu aos risos "Era michê! Tu devia fazer um sucesso como michê em Milão com esse corpinho, hein?".

Nem asim o palhaço se emendou. Continuou querendo "fazer amizade", cortamos de vez (achamos) e viramos as costas. Eis que C.R. volta pra desculpar o sumiço e avisar que vai embora com o bonitinho branquinho. Vai filha, vai na fé de zambi e seja feliz. Junto ela trouxe um outro amigo-não-sei-das-quantas. O palhaço michê não gosta de dividir o palco: "ei, tô na fila pra conhecer as meninas". Como eu sempre digo, dignidade é luxo para poucos. Entabulamos um papo com o palhaço recém chegado, que desaparece em um ônibus, não sem antes fazer seu próprio número.

O michê aproveita para tentar outra aproximação, dessa vez acompanhado de um outro com pinta de psicopata que tava nos olhando desde que chegamos. Qual vai ser? Um rouba nossos pertences e o outro nos esquarteja?

Percebemos que não ia ter jeito, ele não ia largar do nosso pé. Dizemos que vamos dar uma volta e vazamos. Demos a colta no quarteirão achando que ele teria ido procurar nova audiência. Cena patética, quando passamos de novo do outro lado da rua o michê e o psicopata nos deram tchauzinho. Ninguém avisou que hoje o espetáculo era de terror!

Entramos em outro bar e sentamos. Deu uns minutos e quem cheega? Ele, o palhaço interminável, o michê mais chato do mundo, o carimbador de credenciais mais sem noção que já se teve notícia! Ao ver o bruto chegar avisei "segura a bolsa, Glorinha, segura que ele pode se aproveitar que tamos bêbadas e pegar". Mais uns foras que não me lembro e desistimos. Pedimos a conta e sumimos em um táxi.

Será que ele me reconheceu e queria era ficar famoso? Que outra explicação pode haver para comportamento tão sem noção? Que homem é tudo palhaço, o mundo é estranho e porquê é que coisa que não existe eu sei, mas esse extrapolou!

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