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quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Eu, leitora e empresária circense: dos palhaços desmemoriados

Uma das coisas que mais me incomodam nesse mundo é memória curta. O palhaço apronta e esquece tudo. Esquece a protagonista da história, os cenários, os figurinos, os diretores, o público, os atores coadjuvantes. Uma pena, porque isso acaba nos obrigando a assistir a mais um espetáculo. E nada pior do que ser obrigada a assistir coisas como essa que vou relatar.

Uma amiga minha foi traída pelo namorado. Saímos juntos, em grupo, algumas vezes. Vezes suficientes para o desmemoriado lembrar-se da minha pessoa. Mais de um ano depois – tudo bem, um ano é muito tempo para um Homo sapiens meio mongol – ele se hospeda na mesma casa que eu para um fim de semana na praia. Pensei em voltar para casa, mas não valia a pena perder a diversão que meus amigos me garantiam. Com muita sorte, ele não se lembraria de mim e o feriado seria perfeito.

É. Ele não lembrou. Foi pior. Pediu para me conhecer. Estava interessado:
Ele: Oi, tudo bem?
Eu: Tudo. (Sem acreditar no que estava acontecendo)
Ele: Você é muito bonita. Eu te pegava.

Dei um dos sorrisos mais falsos desta minha encarnação e as costas para ajudar um amigo que pisou num caco de vidro. Mas, que reação fraca foi essa a minha? Eu devia ter virado a mão na cara dele. "Eu te pegava" significa que basta que ELE queira? Significa que em algum momento da minha curta existência naquela casa ele suspeitou que eu gostaria de "pegá-lo"? Vai pegar a mãe que te pariu.

Mesmo que já não tivessem me pego naquele momento, e de jeito, a chance que uma oferenda devolvida por uma amiga tem com garotas como eu, e ainda com um histórico infantil e sinistro como o desse profissional circense, é nula.

Palhaçada enviada pela leitora V.T.

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