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quarta-feira, 4 de julho de 2007

Palhaço telemóvel

Pois é, respeitável público, não bastasse eu ser uma dona de circo multitarefas e andar enroladíssima com outros projetos, confesso que não tenho assistido a espetáculos circenses. Acho que já tô manjada e os artistas regulam o talento perto de mim. Mas como o circo não pode parar minha amiga J.E. enviou hoje a continuação da saga do Palhacinho SMS. Afeito aos usos circenses das novas tecnologias, o rapaz protagonizou outra. Aliás, tira o celular de perto desse bruto, porque munido de telemóvel ele é um perigo!


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Dois meses depois da gente terminar me mudei para o Rio de Janeiro, capital, e dali a pouco, ele coincidentemente ele também. Recém-chegada ao Rio, não tinha nem amigos que dirá alguém pra ficar, beijar na boca, enfim, garantir uma manutenção básica. Como ele fazia o serviço direitinho, resolvi que pelo menos até que eu encontrasse um novo candidato a se apresentar no meu picadeiro, me faria muito bem tê-lo como PA. Eu não tava apaixonada mesmo... Resultado: vez por outra, a gente pegava uma praia juntos, tomava uns chopes e sempre, claro, acabávamos na cama - na minha porque sempre era ele quem dormia na minha casa.

Não é que um dia, depois da transa, távamos lá, ainda na cama, nus e enroscados um no outro jogando conversa fora quando o celular dele toca. Era uma garota. Palhaçada número um: naquele momento, naquela situação, não era nem pro cara ter atendido o telefone ainda mais de uma outra garota qualquer. Mas atendeu!!! Palhaçada número 2: não satisfeito, o bruto ficou um tempão falando com a tal!!!! Não, meus queridos, não era namorada dele. Nem a mãe, irmã ou sequer uma prima distante desesperada porque tinha acontecido alguma tragédia na família. Era uma garota que o palhacinho exibido tinha conhecido no avião em uma de suas idas a Porto Alegre, como ele me contou logo em seguida. Ou seja: uma ilustre desconhecida que àquela altura ou ele já estava pegando ou estava muito a fim de pegar. Agora, alguém por favor me explica: qual a necessidade que um cara que está nu, comigo, na minha cama porque acabou de transar comigo tem de atender o telefone e ficar jogando conversa fora com outra garota por uns quinze minutos???

O que eu fiz? Joguei ele e o celular pela janela, claro!!! Quer dizer, essa foi a reação que eu visualizei, com todos os detalhes mas ela ficou só na minha mente. Contive meus impulsos e "naturalmente" - até onde foi possível - levantei da cama, me vesti e fui fazer algo prático (tipo checar meus e-mails, guardar umas roupas que estavam espalhadas, algo do tipo, não me lembro).

Dali a pouco o telefonema acabou. Eu sequer perguntei quem era. Tinha nada a ver com aquilo. Não éramos namorados, não tínhamos compromisso nenhum. Não me interessava saber quem era a tal garota. Ele é que veio dar satisfação. Eu disse que não precisava, que ele não me devia nenhum explicação. "Se a gente estivesse namorando, eu tinha te jogado pela janela. Mas aí, acho que você não teria feito isso, né?"

Mas mesmo a gente não sendo mais namorados aquela atitude dele tinha sido desrespeitosa. Perguntei se ele gostaria que eu fizesse o mesmo e disse que tudo o que ele me devia era consideração e respeito.

Depois dessa, escalei outro titular e esse artista ficou no meu banco de reservas por uns quatro meses. E quando entrou em campo de novo, parecia ter perdido seu talento circense: não apresentou mais nenhum espetáculo.

J.E.

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