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sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Palhaço ex-marido

Dizer que ex-marido é tudo palhaço seria redundância, afinal, se é homem, é palhaço. Sem falar que se as palhaçadas do bruto fossem do tipo "tolerável", ele seria atual e não ex. Ex-maridos são uma categoria de palhaços à parte.

Amiga minha, mulher bonita, inteligente, culta, bem sucedida e bem resolvida, separou-se recentemente. O palhaço ex-marido fez quase todos os clássicos e, ao ser posto pra fora de casa, resolveu fazer o número do ofendido. Diz que a ex não pensou na família e foi egoísta ao demití-lo. Tadinho, não sabe que traição em público dá justa causa em qualquer circo.

Ainda assim, pelo bem do fiho em comum, minha amiga tenta manter um relacionamento amigável com o palhaço. Outro dia foram almoçar para resolver questões comezinhas das sobras de tudo que chamam lar. Claro, artista circense com carteirinha do sindicato, ele mal esperou aquela a quem um dia ele jurou amor eterno sentar pra começar o espetáculo.

Ex-marido - Nossa, como você engordou!
Nova solteira na praça - Você acha?
Ex-marido - Acho.
Nova solteira na praça - Meu braço tá muito grande, né?
Ex-marido - Não sei. Homem não olha pra braço. Homem olha pra bunda e a sua sorte é que sua bunda ainda vale a pena.

Que gentil, né? É exatamente assim que ele vai reconquistar a ex-mulher a quem ele diz ainda amar.


**********

Esse episódio lembrou a minha separação. Meu ex-marido, ao ser catapultado, também fez o número do ofendido injustiçado, apesar de infiel pego em flagrante. De tanto choramingar me convenceu a ir vê-lo. Chego eu no apartamento que dividíamos até quinze dias antes e encontro o bruto deitado de cueca na cama. Cabelo ensebado, cara de quem não toma banho há uma semana. A casa imunda e bagunçada. Sem nem levantar da cama, o palhaço me escrutinou com o olhar e disparou com expressão de desprezo. "Você tá horrível! Tá magra, abatida. Tá horrível". Eu, que tinha virado a noite trabalhando e fui lá ver se o palhaço não tinha tomado chumbinho-mata-e-seca-o-rato, rodei nos calcanhares e fui embora. Tranquei a porta e joguei a chave por debaixo, pra nunca mais cair na esparrela de entrar naquele muquifo.

Jogo baixo, ele começou a ligar pra minha mãe. A velha, a quem ele chamava de nomes nada simpáticos, ficou com dó e me encheu até eu ir "conversar" com ele uma última vez. Chegamos no restaurante e ele sorridente "quando posso ir buscar suas coisas?".

– Não vou voltar.
– Ué? não vai voltar? Então que você tá fazendo aqui?
- Você pediu pra conversar, estou aqui pra conversar amigavelmente.
- Não quero ser seu amigo, quero que volte pra casa.
- Não vou voltar. Acabou, se conforma.
- Se não vai voltar nem precisava ter vindo. Se aceitou conversar eu achei que queria voltar.

Piada das piadas, me chamou de vil por por não querer voltar com ele. Vil? Vil? Vil de cu é rola, meu amigo!

Pois é, eu ainda desperdicei uma folga no trabalho pra ouvir essas sandices, mas aprendi a lição. Claro, depois disso ele encheu o saco, chorou, ligou 5 mil vezes no meio da madrugada, me xingou, mandou cartas risíveis, me agarrou. Pentelhou por oito meses até finalmente sumir para sempre.

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